Menina de vinte da Sophie Kinsella e o abandono parental inverso.

 

Menina de vinte, Sophie Kinsella
Menina  de vinte, Sophie Kinsella 
Páginas::496      Editora: Verus

 

 Recentemente reli "Menina de vinte"da Sophie Kinsella. A primeira vez que li esse livro foi em Outubro de 2014, praticamente 10 anos atrás. Na época foi uma leitura agradável para mim, mas no início a achei entediante, demorou para conseguir me entreter com essa história. 

  Não entendo o motivo que de todos os livros da Sophie Kinsella que li, "Menina de vinte" foi o que escolhi reler. Se eu tivesse escolhido "Fiquei com o seu número" ou "Samantha Sweet: executiva do lar", faria mais sentido.

  De qualquer forma reler "Menina de vinte" foi uma ótima ideia. A experiência com a leitura foi mais imersiva e divertida desta vez do que na primeira. Ainda me irritei com algumas atitudes das  personagens principais ou situações embaraçosas, mas como lembrava de acontecimentos que iriam acontecer mais adiante, essas coisas  perdiam um pouco a relevância o que tornava a leitura interessante. 

Menina de vinte,  Sophie Kinsella

  "Menina de vinte " conta a história de Lara, uma jovem de 27 anos, que começa a ser perturbada pelo fantasma de sua tia-avó que precisa que seu colar seja encontrado, para se livrar da fantasminha inconveniente Lara começa a tentar localizar a joia de sua antepassada. Com o tempo as duas se tornam cada vez mais amigas e descobrem um segredo da família.

  A narrativa começa com Lara tentando ser dispensada da obrigação de comparecer ao enterro de sua tia-avó Sadie que ela nunca chegou a conhecer.  No velório ela e os demais familiares não sabia informar a cerimonialista do que a idosa de 105 anos gostava ou algo sobre a vida dela. Mais adiante Lara vai ao asilo em busca de mais informações sobre o colar perdido e acaba pegando os pertences da falecida que cabia em uma caixa, Nessa visita ela descobre que as roupas que Sadie usava era emprestada pelo asilo e que nos últimos tempos ela apenas recebeu apenas uma visita.

  O cenário de abandono moral que Sadie viveu a mais de 27 anos ( no livro é dito que em 1982, Sadie já morava no asilo e o história se passa em 2009 ) não fica apenas na páginas desse chick-lit de Sophie Kinsella. 

  No Brasil existem leis que protegem os idosos do chamado abandono parental inverso, que se configura pelo abandono do idoso de mais de 60 anos em hospitais, casas de saúde de longa permanência, asilos ou não prover as necessidades básicas destes,  a multa é de 6 a 3 anos e multa; segundo uma lei de 2003. Além disso existe a Lei 11.080/2019  que busca uma consciencia social e política sobre o abandono. e as denúncias  de casos como este só aumentam cada ano. Em 2023 foi registrado quase 20 mil denúncias de Janeiro a Maio, segundo dado divulgado pelo Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania, isso representou 855% a mais em comparação a mesma época em 2022.

 Tudo isso são apenas estatísticas, mas atrás desses números existem vítimas que foram afetadas por uma negligência. Nós não sabemos a história delas, mas isso não  muda o fato de que elas importam.

 A forma de abandono que Sadie foi vítima é o abandono moral, não existe nenhuma agressão física ou moral e as necessidades básicas são supridas, mas mesmo assim não foi tratada como um indivíduo e esquecida e isso deixou marcas nela.

 Sadie era uma jovem rebelde e animada no seu tempo de juventude, que gostava de se arrumar e dançar. Passar os fins dos dias trancafiada em um asilo sem visitas, usando roupas  que não eram dela, percebendo que sua existência  se resumiu a quase nada .

  Ao longo da busca pelo paradeiro do colar, Lara criou uma consciência de que negligenciou de certa forma. Isto não transforma Lara e seus familiares em pessoas de má índole,  mas denúncias como as vezes esse tipo de situação ocorre de forma cotidiana. O que faz Lara ter um olhar mais empático para os outros idosos que moram no asilo, pessoas que têm suas histórias, gostos e hobbies. 

   Lara também resgata uma parte da história de Sadie que modifica a forma que Sadie era  enxergada pelas pessoas, ela era muito mais do que uma senhorinha rejeitada. Acaba sendo uma forma de reparação e um sentimento maior de ser valorizada para Sadie.

 Dessa troca Lara em companhia de Sadie se torna uma mulher com mais auto-estima e independência, e inicia um novo relacionamento mais saudável. 

  "Menina de vinte" é um livro para relaxar e divertir , as interações entre Sadie e Lara, duas garotas de personalidade e épica diferente são o cargo chefe, mas também existem as situações divertidas que Lara se coloca por conta própria ou em suas investigações. Então não espere um livro profundo sobre abandono de idosos ou algo assim, mas é um assunto  importante que mesmo de fórmula supérflua foi abordada em um livro que muitos podem rotular como bobo. Pode até ser um convite para refletir ou buscar saber mais da história de nossos ascendentes. Pelo menos de uma certa forma conhecermos a história  de nosso avós , nossos pais, é uma forma de preservar as memórias deles e de certa forma a história deles também faz parte da nossa.

  "Menina de vinte" é o livro da Sophie Kinsella favorito da minha irmã por muito tempo, mas depois dessa releitura pensei em me unir a ela e mudar o título de livro favorito  da Sophie Kinsella de "Fiquei com o seu número " para este .

  Amei reler "Menina de vinte", amo quando reencontro com um livro e acabo me apaixonando ainda mais pela história. É una das vantagens de praticar o hábito de reler  livros.

Já leram "Menina de vinte", tem vontade ? Diga nos comentários 


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