Resenha | Tom Lake, Ann Patchett

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Tom Lake, Ann Patchett 
Páginas: 367  Editora: Intrínseca 

Já faz um bom tempo que não trago uma resenha aqui, e dessa vez escolhi trazer uma resenha do livro Tom Lake da Ann Patchett .

Foi durante a pandemia que ouvi falar pela primeira vez de um livro da Ann Patchett. Havia sido publicado "A Casa Holandesa" na Caixa dos Intrínsecos de junho daquele ano. Cheguei a me interessar pelo título, mas no final das contas o meu primeiro contato com a autora foi agora em 2024, com um livro escrito durante aquela época.

Tom Lake foi uma das escolhas do clube do livro da Reese Witherspoon (lembra como esse clube estava no seu auge lá em 2020?)

Sobre o livro:

Tom Lake se passa durante a pandemia do coronavírus em uma fazenda no interior do Michigan, cuja atividade principal é a colheita de cerejas.

A narrativa acompanha as mulheres dessa família mãe e enquanto colhem cerejas, se entretêm com a mémorias da mãe sobre sua carreira de atriz e principalmente sobre uma antiga paixão dela que virou um astro do cinema. 

É desse ponto que parte a narrativa de "Tom Lake". Enquanto Lara compartilha suas memórias com Maisie, Emily e Nell, são feitas algumas revelações para as filhas e principalmente para o leitor.

Tom Lake vem a ser um festival de teatro de verão que acontece no Michigan; lá é o local onde Lara conheceu Duke e onde decidi morar no Michigan. E este é o motivo do título da história. Eu ignorava esse fato — espero que vocês não me achem ignorante —, mas considerei que Tom Lake fosse o nome do ator famoso ou o nome da fazenda; não havia imaginado que seria o festival de teatro.

A narrativa de Tom Lake é lenta; não sei se é uma característica comum nos livros de Ann Patchett, mas chega a dar a sensação de que no início não está acontecendo nada. Mas aos poucos a história vai ganhando seus contornos, delineando os seus personagens, a sua ambientação. E quando você se dá conta esta imerso naquelas páginas.

Cada história tem algum propósito; a de Tom Lake é te fazer sentar com seu café (ou chá, dependendo da sua preferência), acomodar-se e entregar-se, no virar das páginas, ao aconchego desta história, na companhia dessas mulheres e de uma boa fofoca. Irá ter momentos reflexivos, talvez até se irrite em algum momento, mas essa sensação de conforto permanece.

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Tom Lake e a pandemia da Covid

Enquanto o carro de som passava pela rua pedindo para que não saíssemos de casa, nos instruindo sobre novas precauções como uso de máscaras ou a suspensão das aulas. Eu, além de mesclar entre encarar aquela situação de forma positiva ou de uma forma completamente neurótica, pensava como esse caos iria ser retratado na literatura.

Nos últimos anos deparei com alguns livros  que usaram a pandemia da Covid-19 como plano de fundo em suas tramas, entre eles "O bebê é meu" da Oyinkan Braithwaite, "Se a casa 8 falasse" do Vitor Martins e agora Tom Lake.

Em Tom Lake, o Covid e a pandemia não são tão abordadas durante a narrativa; os comentários sobre essa época s se escondem em pequenos detalhes, como o fato de Lara comentar em certo ponto da narrativa que dormiu com a agulha na mão enquanto costurava máscaras, ou o fato de Maisie ter que fazer suas aulas de faculdade online.

"— Você não pode fingir que isso não está acontecendo — retrucou Maisie. 

Não podia, e não finjo. Também não vou fingir que estarmos todas juntas não me enche de alegria. Entendo que essa alegria seja inadequada atualmente, mas a gente sente o que sente.

Enquanto virava as páginas, eu acabei lembrando de uma forma estranhamente nostálgica daquela época turbulenta. Estranho dizer, mas eu vejo um grande buraco negro quando lembro dessa época, como se nunca tivesse existido, mas Tom Lake despertou algumas dessas memórias em mim.

Teve uma vez, no começo da pandemia, que o meu pai soube pelo meu tio de uma plantação de feijão onde já havia sido feita a colheita, mas ainda havia sobrado bastante coisa. Na época, ele estava desempregado e um pouco desesperado; imagino que para ele foi uma pequena luz no fim do túnel quando soube dessa notícia. Ele, na esperança de conseguir vender esse feijão ou pelo menos ter garantido esse alimento no nosso prato por um bom tempo, foi lá e trouxe uma boa quantidade de vagens de feijão. E a tarefa de abrir as vagens e separar os feijões bons dos ruins acabou ficando a cargo de minha mãe e irmãos (aos poucos essa tarefa virou somente minha e da minha mãe). Estendíamos um saco de estopa sobre o concreto e ficávamos horas nessa tarefa e conversávamos. Não me lembro sobre o que falávamos, não tínhamos uma pauta fixa, e na verdade isso esteve guardado em um recanto bem pouco frequentado da minha memória que foi despertado ao ler sobre esse grupo de mulheres — três filhas e mãe — na tarefa de colheita de cerejas enquanto a mãe compartilha suas memórias com sua prole. Claro, o meu cenário de separação e armazenamento de feijão é menos pitoresco do que uma fazenda de cerejas, mas ainda assim temos um pouco em comum.

É interessante como a literatura ou ficção em geral desperta nossa memórias e fazem enxergar elas por outro ângulo.

***

No geral Tom Lake  foi uma boa experiência , pretendo ler mais livros da Ann Patchett, esta na minha minha mira “Bel Canto”, um dos livros do Desafio Rory Gilmore que parece ser promissor e talvez também me anime a ler “A casa Holandesa"

Vocês já leram "Tom Lake? Tem interesse de ler?Digam nos comentários?

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